sábado, 5 de novembro de 2011

A DITADURA MILITAR, E A CENSURA À MÚSICA BRASILEIRA


A DITADURA MILITAR, E A CENSURA À MÚSICA BRASILEIRA

Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerda dentro das forças armadas, todos estavam engajados e articulados em entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes), o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), o PUA (Pacto da Unidade e Ação), etc, que tinham grande representatividade diante dos destinos políticos da nação. Com a implantação da ditadura, todas essas entidades foram asfixiadas, sendo extintas ou a cair na clandestinidade. Em 1968, os estudantes continuavam a ser os maiores inimigos do regime militar. Reprimidos em suas entidades, passaram a ter voz através da música. A Música Popular Brasileira começa a atingir as grandes massas, ousando a falar o que não era permitido à nação.

Diante da força dos festivais da MPB, no final da década de sessenta, o regime militar vê-se ameaçado. Movimentos como a Tropicália, com a sua irreverência mais de teor social-cultural do que político-engajado, passou a incomodar os militares. A censura passou a ser a melhor forma da ditadura combater as músicas de protesto e de cunho que pudesse extrapolar a moral da sociedade dominante e amiga do regime. Com a promulgação do AI-5, em 1968, esta censura à arte institucionalizou-se. A MPB sofreu amputações de versos em várias das suas canções, quando não eram totalmente censuradas.
Para censurar a arte e as suas vertentes, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), por onde deveriam previamente, passar todas as canções antes de executados nos meios públicos. Esta censura prévia não obedecia a qualquer critério, os censores poderiam vetar tanto por motivos políticos, ou de proteção à moral vigente, como por simplesmente não perceberem o que o autor queria dizer com o conteúdo. A censura além de cerceadora, era de uma imbecilidade jamais repetida na história cultural brasileira.

Os Perseguidos do Pré-AI-5


Antes mesmo de deflagrado o AI-5, alguns representantes incipientes da MPB já eram vistos pelos militares como inimigos do regime, entre eles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Taiguara e Geraldo Vandré.
A intervenção de Caetano Veloso era mais no sentido da contracultura do que contra o regime militar. Os tropicalistas estavam mais próximos dos acontecimentos do Maio de 1968 em Paris, do que das doutrinas de esquerda que vigoravam na época, como o marxismo-leninismo soviético e o maoísmo chinês. Mas os militares não souberam identificar esta diferença, perseguindo Caetano Veloso e Gilberto Gil pela irreverência constrangedora que causavam. 
Na época da prisão dos dois cantores, em dezembro de 1968, os militares tinham de concreto contra eles, a acusação de que tinham desrespeitado o Hino Nacional, cantando-o aos moldes do tropicalismo na boate Sucata, e uma ação que queria mover um grupo de católicos fervorosos, ofendidos pela gravação do “Hino do Senhor do Bonfim” (Petion de Vilar – João Antônio Wanderley), no álbum “Tropicália ou Panis et Circenses” (1968). Juntou-se a isto a provocação de Caetano Veloso na antevéspera do natal de 1968, ao cantar “Noite Feliz” no programa de televisão “Divino Maravilhoso”, apontando uma arma na cabeça. O resultado foi a prisão e o exílio dos dois baianos em Londres, de 1969 a 1972.
Ainda do repertório do álbum mítico “Tropicália ou Panis et Circenses” , a música “Geléia Geral” (Gilberto Gil – Torquato Neto), sofreu o veto da censura por ser considerada de conteúdo política contestatória, além de segundo os censores, fazer um retrato equivocado da situação pela qual passava o país.

Ao retornar do exílio, Caetano Veloso e Gilberto Gil sofreram com a perseguição da ditadura e da censura. Em 1973, Caetano Veloso teve a sua canção “Deus e o Diabo”, vetada por causa do último verso “Dos bofes do meu Brasil”. Diante do veto, a gravadora solicitou recurso, foi sugerido pelo censor que o autor substituísse a palavra “bofes”. Mas um segundo censor menciona os versos “o carnaval é invenção do diabo que Deus abençoou” e “Cidade Maravilhosa/ Dos bofes do meu Brasil”, como ofensivos às tradições religiosas.

Em 1975, o álbum “Jóia” trazia na sua capa Caetano Veloso, sua então mulher Dedé e o filho Moreno, completamente nus, com o desenho de algumas pombas a cobrir-lhe a genitália. Censurada, o álbum foi relançado com uma nova capa, onde restaram apenas as pombas.
Geraldo Vandré tornou-se o inimigo número um do regime militar. A sua canção “Caminhando (Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores)”, que ficou com o polêmico segundo lugar no Festival Internacional da Canção, em 1968, tornou-se um hino contra a ditadura militar, cantado por toda a juventude engajada do Brasil de 1968. Esta canção, afirmam alguns analistas de história, foi uma das responsáveis pela promulgação do AI-5. Ficou proibida de ser cantada e executada em todo país. Só voltaria a ser ressuscitada em 1979, após a abertura política e a anistia, quando a cantora
 Simone a cantou em um show, no Canecão. Perseguido pelo regime, Geraldo Vandré esteve exilado de 1969 a 1973. Após o exílio, jamais conseguiu recuperar a carreira interrompida pela censura da ditadura militar. Calava-se uma expressiva carreira emprestada ao combate à ditadura.
Taiguara, uma das mais belas vozes masculinas da MPB, interpretou com maestria diversos gêneros musicais. Foi um dos cantores que mais se opôs contra a repressão da ditadura militar. Sua obra pagou o preço da perseguição e da censura. Deparou-se com a atenção da censura em 1971, que esteve atenta às canções do álbum “Carne e Osso”. 
Em 1973 teve 11 músicas proibidas. Perseguido pela censura, Taiguara teve muitas das suas músicas assinadas por Ge Chalar da Silva, sua esposa na época. Exilado em Londres, Taiguara gravou o álbum “Let the Children Hear the Music“, em inglês. O disco foi proibido de ser lançado, pela EMI, por decisão da polícia federal brasileira. O compositor recorreu ao Conselho Superior de Censura, em 1982, tendo o disco finalmente liberado.

Chico Buarque, o Alvo Predileto da Censura Militar


Tendo silenciado e asfixiado Geraldo Vandré, os militares elegeram o seu povo inimigo do regime: Chico Buarque de Hollanda. No período que durou a censura e o regime militar, Chico Buarque foi o compositor e cantor mais censurado. A sua obra sofreu respingos da censura em todas as vertentes, tanto nas canções de protesto, quanto nas que feriam os costumes morais da época.
Os problemas de Chico Buarque com a censura começaram junto com a sua carreira. Em 1966, a música “Tamandaré”, incluída no repertório do show “Meu Refrão”, com Odete Lara e MPB-4, é proibida após seis meses em cartaz, por conter frases consideradas ofensivas ao patrono da marinha. Era o começo de um longo namoro entre a censura e a obra de Chico Buarque.
Exilado na Itália, de 1969 a 1970, Chico Buarque sofreria com a perseguição da censura após o retorno ao Brasil. Em 1970, recém chegado do exílio, o compositor enviou a música “Apesar de Você” para a aprovação da censura, tendo a certeza que a música seria vetada. Inesperadamente a canção foi aprovada, sendo gravada imediatamente em compacto, tornando-se um sucesso instantâneo. Já se tinha vendido mais de 100 mil cópias, quando um jornal comentou que a música referia-se ao presidente Médici. Revelado o ardil, o exército brasileiro invadiu a fábrica da Philips, apreendendo todos os discos, destruindo-os. Na confusão, esqueceram de destruir a matriz.

Em 1973 Chico Buarque sofreria todas as censuras possíveis. A peça “Calabar, ou o Elogio à Traição”, escrita em parceria com Ruy Guerra, foi vetada pela censura.As conseqüências da proibição viriam no seu álbum, “Calabar”, também daquele ano. A capa do disco trazia a palavra “Calabar” pichada num muro. Os censores concluíram que aquela palavra pichada tinha um significado subversivo, o que resultou na proibição da capa.  A resposta de Chico Buarque foi lançar o álbum com uma capa totalmente branca e sem título.

O disco trazia o registro das canções da peça vetada, por isto teve várias músicas (todas elas em parceria com Ruy Guerra) que amargaram nas malhas da censura. “Vence na Vida Quem Diz Sim” teve a letra totalmente censurada, sendo gravada no disco uma versão instrumental; “Ana de Amsterdam” teve vários trechos censurados. “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, que fazia parte deste disco, alcançaria grande sucesso quando gravada por Ney Matogrosso, em 1978, quando foi escolhida como tema de abertura da novela da tevê Globo “Pecado Rasgado”, na versão original da música o verso “Vamos fazer um pecado safado debaixo do meu cobertor“, foi substituído por “Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor“.  “Fado Tropical” teve proibido parte de um texto declamado por Ruy Guerra, além da frase “além da sífilis, é claro”, herança portuguesa, segundo a personagem Mathias, no sangue brasileiro. “Bárbara”, um dueto entre as personagens Ana de Amsterdam e Bárbara, teve cortada a palavra “duas”, por sugerir um relacionamento homossexual entre elas. Tanto “Ana de Amsterdam” quanto “Bárbara”, já tinham sofrido os mesmos cortes no álbum “Caetano e Chico Juntos Ao Vivo”, ali substituídos por palmas. Ainda no registro do encontro de Chico Buarque e Caetano Veloso, além da censura às duas canções citadas, “Partido Alto” (Chico Buarque), interpretada por Caetano Veloso, sofreu alterações na letra, sendo substituídas as palavras “brasileiro” por “batuqueiro” e “pouca titica” por “pobre coisica”.
Diante de tantas mutilações da censura, o álbum “Calabar”, com capa branca, de Chico Buarque, foi um fracasso de vendas. Após o fracasso comercial , a Philips decidiu recolher o disco com capa branca, relançando-o semanas depois, com uma nova capa, trazendo apenas com uma fotografia do artista, de perfil, com o título “Chico Canta”.
Naquele ano de 1973, a música “Cálice” (Chico Buarque – Gilberto Gil), foi proibida de ser gravada e cantada. Gilberto Gil desafiou a censura e cantou a música em um show para os estudantes, na Politécnica, em homenagem ao estudante de geologia da USP Alexandre Vanucchi Leme (o Minhoca), morto pela ditadura. Ainda naquele ano, no evento “Phono 73”, festival promovido pela Polygram, Chico Buarque e Gilberto Gil tiveram os microfones desligados quando iriam cantar “Cálice”, por decisão da própria produção do show, que não quis criar problemas com a ditadura.
Em 1974 a censura não dá tréguas ao artista. Impedido de gravar a si mesmo, Chico Buarque lança um disco, Sinal Fechado (1974), com composições de outros autores. Diante de tantas canções vetadas, a sofrer uma perseguição acirrada, Chico Buarque cria os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva. É sob o heterônimo do Julinho da Adelaide que a censura deixa passar canções de críticas inteligentes à ditadura, lidas nas entrelinhas: “Jorge Maravilha”, que trazia o verso “Você não gosta de mim mas sua filha gosta”, que era lida como uma referência ao então presidente Geisel, cuja filha Amália Lucy, teria dito em entrevista, que admirava as canções do Chico Buarque. “Acorda Amor”, outra canção liberada do Julinho da Adelaide, era uma referência clara aos órgãos da repressão, que vinham buscar cidadãos suspeitos de subversivos em suas casas, levando-os em uma viatura, desaparecendo com eles. Diante da polícia repressiva, ele chamava pelo ladrão. “Milagre Brasileiro” também levou a assinatura de Julinho da Adelaide.
Outro clássico da MPB que sofreu uma censura moralista foi “Atrás da Porta” (Chico Buarque – Francis Hime), o verso original “E me agarrei nos teus cabelos, nos teus pêlos”, seria substituído por “E me agarrei nos teus cabelos, no teu peito”, a censura achava a palavra “pêlos” de caráter indecente.
Outra canção vetada de Chico Buarque foi “Tanto Mar”, uma homenagem do artista à Revolução dos Cravos em Portugal. Por ter sido uma revolução considerada socialista, a canção foi proibida. Seria gravada no álbum “Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo” (1975), numa versão instrumental. Mais tarde, em 1978, seria liberada com uma outra letra. Curiosamente, a versão original, sem cortes e cantada de “Tanto Mar”, consta no mesmo álbum “Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo” lançado em Portugal.
Quando o AI-5 foi extinto, em 1978, Chico Buarque vingou-se dos anos de censura, gravou “Cálice”, regravou “Apesar de Você”, além de criar músicas provocantes, que afrontavam à moral da época, como “Folhetim“, que descrevia uma prostituta, ou “Geni e o Zepelim” e “Não Sonho Mais”, temas de dois travestis, Genivaldo da peça “A Ópera do Malandro” e Eloína, do filme “A República dos Assassinos”, respectivamente.
  

1973, o Ano Negro da Censura às Músicas da MPB


Chico Buarque não teria sido o único cantor da MPB a sofrer mutilações na sua obra naquele opressivo ano de 1973. O endurecimento deve-se à volta das manifestações estudantis, nos últimos anos bruscamente combalidas, resultado das perseguições aos líderes do movimento, que estavam em sua maioria presos, exilados ou desaparecidos. Outro disco mutilado pela censura naquele ano foi “Milagre dos Peixes”, de Milton Nascimento, lançado em LP e compacto simples. Do álbum seriam vetadas as canções: “Hoje é Dia d’El Rey” (Márcio Borges – Milton Nascimento), “Os Escravos de Jó” (Milton Nascimento – Fernando Brant) e “Cadê” (Milton Nascimento – Ruy Guerra). Uma das faixas proibidas teria a participação de Dorival Caymmi, com a sua exclusão, não aconteceu esta participação. “Diálogo Entre Pai e Filho” teve uma única frase que não foi proibida: “Meu filho”. Diante da censura, Milton Nascimento gravou apenas as melodias das canções vetadas.

Foi no tumultuado ano de 1973, que a banda Secos & Molhados explodiu, conquistando o país inteiro. O público dos Secos & Molhados, devido à proposta inovadora e ao seu carisma, era composto por todas as idades, inclusive por crianças e por adolescentes. Os três integrantes da banda eram Ney Matogrosso, Gerson Conrad e João Ricardo, que se apresentavam com os rostos pintados.
              Ney Matogrosso além de trazer a cara pintada, tinha uma voz de timbre totalmente diferente da de um homem cantor, um aspecto andrógeno e apresentava-se entre plumas, sem camisa. Os pêlos do peito do cantor e os seus frenéticos rebolados, incomodaram à censura, à moral e aos seus bons costumes vigentes, que proibiu que as câmeras da televisão focassem o cantor de perto, sendo permitido apenas aparecer o rosto em close. Assim apareceriam os Secos & Molhados em um clipe do recém estreado “Fantástico”, programa da Rede Globo.
Além da capa de “Calabar”, também em 1973, Gal Costa teve censurada a capa do disco “Índia”, por trazer um close frontal da cantora vestida de uma tanga minúscula, e na contra-capa fotografias da mesma de seios nus, vestida de índia. A gravadora Philips comercializou o álbum coberto por um envelope opaco, de plástico azul. Do mesmo álbum, a música “Presente Cotidiano”, de Luiz Melodia, foi proibida de tocar em rádios e locais públicos. Em 1984, já no fim da ditadura, pós Diretas Já, Gal Costa teria outra canção proibida pela censura de ser tocada em público: “Vaca Profana” (Caetano Veloso), do álbum “Profana”. Ainda naquele tenso 1973, uma reportagem da revista Veja, dava conhecimento de que o álbum de Gonzaguinha, “Luiz Gonzaga JR.” (1973), era resultado do corte feito pela censura de 15 músicas.
Ainda em 1973, Raul Seixas teria 18 composições vetadas pela censura. Luiz Melodia, além de ter “Presente Cotidiano” proibida de ser executada nas rádios, teve várias palavras excluídas ou alteradas das canções do seu disco de estréia, e várias músicas vetadas na íntegra.
Linguagem Poética e Coloquial Sofrem Censuras

Na ignorância cega da censura, sem uma lógica que a sustentasse, até o poeta Mário de Andrade foi vetado. O fato inusitado aconteceu em 1970, quando a gravadora Festa decidiu homenagear os 25 anos da morte do poeta, preparando um disco com alguns dos seus mais conhecidos poemas. Após ser submetido à censura, o projeto teve seis poemas proibidos, entre eles “Ode ao Burguês” e “Lira Paulistana”. Os vetos foram justificados pelos censores como estéticos, “falta de gosto”. O que se concluía era que, os censores jamais tinham ouvido falar em Mário de Andrade, confundindo-o com um autor vulgar do Brasil da época.

Outro exemplo eloqüente da ignorância e do despreparo dos censores, foi com o compositor e cantor Adoniran Barbosa. Conhecido como o mais paulistano dos compositores, Adoniran Barbosa usava em suas canções o jeito coloquial de falar dos paulistanos. Não querendo problemas com a censura, em 1973 o artista decidiu lançar um álbum com várias canções já gravadas na década de cinqüenta. Inesperadamente, cinco das suas canções foram vetadas, mesmo não sendo inéditas. Diante da linguagem coloquial de “Samba do Arnesto” (Adoniran Barbosa – Alocin), que trazia nos seus versos “O Arnesto nos convidou prum samba/ Ele mora no Brás/ Móis fumo/ Num encontremo ninguém/ Fiquemo cuma baita duma réiva/ Da outra veiz nóis num vai mais (Nóis num semo tatu)”, o censor só liberaria a música se ele regravasse cantando assim: “Ficamos com um baita de uma raiva/ Em outra vez nós não vamos mais (Nós não somos tatus)”. Na letra da música “Tiro ao Álvaro” (Adoniran Barbosa – Oswaldo Moles), a censora faz um círculo nas palavras “tauba”, “revorve” e “artormove”, concluindo que a “falta de gosto impede a liberação da letra”. Para que pudessem ser aprovadas, “Samba do Arnesto” e “Tiro ao Álvaro”, teriam que virar “Samba do Ernesto” e “Tiro ao Alvo”. Tiveram o mesmo destino “Já Fui uma Brasa” (Adoniran Barbosa – Marcos César), “Eu também um dia fui uma brasa. E acendi muita lenha no fogão” e “O Casamento do Moacir” (Adoniran Barbosa – Oswaldo Moles), “A turma da favela convidaram-nos para irmos assistir o casamento da Gabriela com o Moacir“. “O Casamento do Moacir” foi considerada de “péssimo gosto” pela censora Eugênia Costa Rodrigues. Diante da censura, Adoniran Barbosa não mudou a sua obra, deixou para gravar as músicas mais tarde, quando a burrice já tivesse passado.
Outro poeta que teve problemas com a censura foi Vinícius de Moraes. Sua música “Paiol de Pólvora” (Vinícius de Moraes – Toquinho), feita para a trilha sonora de “O Bem-Amado”, foi proibida de ser o tema de abertura da novela, em 1973, por causa do verso “estamos sentados em um paiol de pólvora”, sendo substituída na abertura pela música “O Bem Amado” (Vinícius de Moraes – Toquinho), interpretada pelo coral da Orquestra Som Livre. Também a belíssima canção “Valsa do Bordel” (Vinícius de Moraes – Toquinho), sobre a vida de uma velha prostituta, esteve proibida por dez anos. Vinícius cantava esta música em shows, ironicamente chamando-a de “A Valsa da Pura”, por causa da censura.
Paulinho da Viola, em 1971, teve no seu álbum “Paulinho da Viola”, duas canções proibidas: “Chico Brito” (Wilson Batista – Afonso Teixeira), música composta em 1949, e “Um Barato, Meu Sapato” (Paulinho da Viola – Milton Nascimento), ambas vetadas sob a alegação de que evidenciavam o clima marginal do samba.


Outros Tantos Vetos

              Vale registrar, ainda, que em 1972, Jards Macalé teria que reescrever sete vezes a letra de “Revendo Amigos” (Jards Macalé – Waly Sailormoon), do álbum “Movimento dos Barcos”. Sérgio Bittencourt, jornalista e compositor, filho de Jacob do Bandolim, em 1970, teve a sua música “Acorda, Alice”, proibida pela censura da ditadura militar por causa do verso “Acorda, Alice/ Que o país das maravilhas acabou”. Esta canção seria gravada por Waleska já na época da abertura política.
Rita Lee teve as músicas “Moleque Sacana” (Rita Lee e Mu) e “Gente Fina” (Rita Lee) censuradas, a primeira por causa da palavra sacana, considerada obscena, a segunda porque poderia ferir os bons costumes da época.
Carlos Lyra sentiu o gosto da censura com a sua música “Herói do Medo”, proibida por causa dos versos “odeio a mãe por ter parido” e “o passatempo estéril dos covardes“. Carlos Lyra não alterou o conteúdo da letra, preferiu sair do país. Belchior, que durante muito tempo foi considerado autor marginal, teve a música “Os Doze Pares de França” (Belchior – Toquinho) censurada, porque para os censores, os autores vangloriavam a França, fazendo dele um país melhor para se viver do que o Brasil. Também a canção “Pequeno Mapa do Tempo” (Belchior), de 1977, uma crítica implícita ao regime, por causa dos versos “eu tenho medo e medo está por fora” e “eu tenho medo em que chegue a hora, em que eu precise entrar no avião“, uma alusão ao exílio, os censores concluíram que a música trazia mensagem de protesto político. Ao contrário do que se pensa, o cantor e compositor Luiz Ayrão foi um dos artistas brasileiros que mais contestou a ditadura militar. A sua música “Quem Eu Devo é Que Deve Morrer”, tem como tema uma dívida pessoal que só será paga se Deus quiser. Também a dívida externa brasileira encontrava-se nessas condições. Luiz Ayrão faz um samba provocativo. Diante da afirmação do verso “quem eu devo é que deve morrer“, a canção é vetada, sendo a proibição justificada pela censura porque a letra era um incentivo ao homicídio, com uma mensagem de caráter negativo. 
Sueli Costa deu a canção “Cordilheira” (Sueli Costa – Paulo César Pinheiro) para Erasmo Carlos gravar. Feito o registro, a canção jamais saiu, sendo proibida. Os autores chegaram a ir a Brasília em busca de uma explicação para o veto. Encontram o silêncio dos censores, sem nenhuma justificativa. Mas os versos falavam por si: “Eu quero ver a procissão dos suicidas, caminhando para a morte pelo bem de nossas vidas”. “Cordilheira” é uma das mais belas canções de teor contestatório já feita no Brasil. Quando liberada, seria gravada por Simone, em 1979, no álbum “Pedaços”. O registro de Erasmo Carlos só saiu em uma caixa de cds comemorativos à carreira do cantor. Outra canção censurada de Sueli Costa foi “Altos e Baixos” (Sueli Costa – Aldir Blanc), que cantava de forma densa uma cena de agressão entre um casal, que trazia um casamento desgastado. A música falava de uísque, Dietil, Diempax, e foi justamente por ter citado o nome do ansiolítico Diempax, que a canção foi censurada. Elis Regina conseguiria a liberação da música, gravando-a no seu álbum “Essa Mulher” (1979).

O Brega ou Popularesco, Nada Escapa à Censura


                 Como já se pôde observar, a censura da ditadura militar não obedecia a nenhum critério. Qualquer ameaça não só ao regime por ela imposto ao país, como à sociedade conservadora que a ajudou a ascender ao poder e nele continuar por mais de duas décadas. Vestido de uma moral hipócrita, o regime militar barrava qualquer obra que suspeitasse ofender à moral, ou que se mostrasse obscena a essa moral. Em um mesmo contesto, tanto Chico Buarque, quanto Odair José, um cantor e compositor de sucessos popularescos, sem vínculos com qualquer militância política, ou mesmo o genial e popular Genival Lacerda, sofriam os reveses da censura. “Tanto Mar” (Chico Buarque), “Pare de Tomar a Pílula” (Odair José) e “Severina Xique Xique”, apesar de canções antagônicas, de vertentes diversas dentro da música brasileira, oscilando entre a canção política e a considerada “brega” ou “pimba”, eram consideradas pela censura um perigo latente ao regime e à moral que se construía naquela época. 
              Em 1975, já Genival Lacerda tinha transformado a sua música “Severina Xique Xique” (Genival Lacerda – João Gonçalves) em um grande sucesso de público no nordeste brasileiro, quando foi vítima do preconceito das famílias do Ceará, que acusavam a palavra “boutique” de ter duplo sentido, ofendendo os bons costumes do lugar. Diante do protesto, o departamento regional da polícia federal do Ceará encaminhou a letra à Divisão de Censura de Brasília. Surpreendentemente, o técnico de censura de Brasília, mantém a liberação da música e afirma que a canção “é um veículo de integração da nacionalidade“. Este fato prova que a censura não vinha só do regime militar, mas da sociedade que apoiava este regime, e que muitas vezes, era mais repressiva e conservadora do que ele.

Dentro do popularesco da canção brasileira, Odair José foi um dos compositores que mais sofreu com a censura. “O Motel” (Odair José), teve só pelo seu título, o veto da censura. Revelar a intimidade de um casal naqueles preconceituosos anos setenta era inconcebível para a censura militar. Outra música de Odair José vetada pela censura foi “A Primeira Noite”, considerada inconveniente para ser consumida pelo público jovem e adolescente da época. O autor mudou o título da canção para “Noite de Desejos”, conseguindo liberá-la e gravá-la. A mais polêmica música de Odair José foi “Pare de Tomar a Pílula”, onde ele pedia para a namorada deixar de usar anticoncepcionais para que pudesse engravidá-la. Vista à ótica do tempo, a canção chega a ser ingênua, de uma simplicidade quase grotesca, absolutamente inofensiva para um público atual, mas aviltante para as velhas senhoras que em 1964, saíram às ruas de rosários nas mãos, saudando, em nome da família brasileira, os golpistas militares.
Dentro da corrente popularesca, a censura não poupou nem mesmo a dupla Dom e Ravel, que em 1970, tornara-se a menina dos olhos da repressão, com uma música que exaltava a nação, tornando-se o hino da ditadura: “Eu Te Amo, Meu Brasil”. O motivo que levou o regime a interrogar Dom e Ravel, foi quando eles apresentaram, em 1972, a canção “A Árvore”, os censores desconfiaram do trecho “venha, vamos penetrar”. Além de imaginar que o tema que falava de árvores, seria supostamente sobre a canabilis (planta da maconha). A música foi proibida, apesar de ter uma gravação da banda Os Incríveis, nunca foi lançada. A esta altura, a incoerência da censura já dava passagem para uma certa esquizofrenia social e política, sem ideologia ou razão.
Dentro de um processo repressivo, todos os argumentos tornam-se incoerentes, a razão é substituída pela força bruta. A censura não constrói uma lógica, muitas vezes ela percorre movida pelas decisões pessoais dos censores. Para manter as necessidades de uma ditadura, a censura fazia parte da arma de propaganda do estado repressivo, podava a liberdade de expressão, principalmente as que feriam os princípios que justificam um governo ilegítimo, emanado da força, da opressão e da traição aos princípios da democracia. 

Referências: 
 http://jeocaz.wordpress.com/2008/09/03/a-musica-brasileira-e-a-censura-da-ditadura-militar/#comment-1079

domingo, 23 de outubro de 2011

AS TIC NO AMBIENTE ESCOLAR: TRANSMITIR INFORMAÇÃO OU PRODUZIR CONHECIMENTO?


AS TIC NO AMBIENTE ESCOLAR: TRANSMITIR INFORMAÇÃO
OU PRODUZIR CONHECIMENTO? [1]
                                               






Autora
Ucineide R. Rocha Moreira[2] - UFS


Orientador
Prof. Dr. Henrique Nou Schenneider[3]






Resumo: Esse artigo tem como objetivo discutir a importância das Tecnologias da Informação e Comunicação no ambiente escolar, mostrando como as mesmas podem ser utilizadas como recurso pedagógico na produção do conhecimento. Aborda questões referentes ao contexto social, globalização, contemporaneidade, tecnologias e formação do professor. Situa a ação da escola da rede particular de ensino em meio a todos esses elementos em questão analisando de que forma a mesma se apodera de determinadas tecnologias que são incluídas na prática do professor. Faz uma análise do papel deste profissional em relação a sua posição numa sociedade caracterizada como sociedade do conhecimento e como mediador no processo de ensino e aprendizagem.






Palavras – chaves:   Tecnologia –  Educação -Formação de Professor.







Em meio a tantas transformações ocorrentes hoje na sociedade, e levando em consideração a influência das mesmas no aspecto educacional, esse artigo  pretende analisar e discutir de forma objetiva como se dá a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no ambiente escolar, caracterizando-as como recursos auxiliares na produção do conhecimento.
Esse trabalho está constituído em três tópicos, sendo que o primeiro trata em discutir as categorias de Conhecimento e Informação na sociedade contemporânea, o segundo trata do conceito de tecnologia e a sua inserção no ambiente escolar e situa a formação e prática do professor na sociedade tida como sociedade do conhecimento e informação.
Assim, pós-modernidade, sociedade do conhecimento, Revolução da Informática, Terceira Revolução Industrial, muitas têm sido as denominações do nosso período  atual. O importante a destacar, é que independente da denominação, a base desse período está na evolução da microeletrônica, está também, num novo processo, sendo o homem, segundo Dermeval Saviane (1999): “ o criador, aquele que o domina plenamente e que o controla em última instância”.
         Situar o surgimento da modernidade num espaço geográfico e de tempo é algo simples. Basta dizer que tudo começa na Europa no século XVIII. Porém, identificar e caracterizar todas as transformações pelas quais esse período passou e vem passando, leva-nos a uma reflexão maior.
        Para Giddens, a passagem da modernidade para a pós-modernidade deu-se da seguinte forma:
Alguns dos debates sobre estas questões se concentram principalmente sobre transformações institucionais, particularmente as que sugerem que estamos nos deslocando de um sistema baseado na manufatura de bens materiais para outro relacionando mais concentradamente com informação. (GIDDENS:1991,67)

Nesse contexto, concorda-se com este autor ao perceber a ênfase dada a informação neste momento, ao mesmo tempo em que se foge uma compreensão de tudo que rapidamente acontece.
Hoje, o cotidiano do homem é marcado pela tecnociência, sem no entanto sabermos se dos alimentos processados até os  microcomputadores significam decadência ou renascimento cultural.
O fato é que estamos vivendo novos paradigmas e neles presentes as Tecnologias da Informação e da Comunicação TIC, que vêm transformando não só as maneiras do homem se comunicar, mas também, trabalhar, decidir, pensar.
Acredita-se que há uma relação muito estreita entre essa nova realidade e a Educação, por isso, entende-se que se há mudanças em um, há em outro, respectivamente. Sendo assim, todas as inovações presentes hoje na sociedade e no seu modus vivendi implicam diretamente na Educação Escolar e na formação do  ser humano como um todo.

 

Informação e Conhecimento na Contemporaneidade


Umas das categorias importantes deste estudo está na definição de Informação, Conhecimento. Analisando o significado de  cada um deles, pode-se começar dizendo que informações estão relacionadas com dados, é algo mais direto, e que não merece muito esforço para recebê-los e compreendê-los, uma vez que os temos num momento imediato.
De maneira bastante livre, podemos definir informação como um valor, ou dado, que possa ser útil para alguma aplicação ou pessoa. Nessa singela definição, que reflete o senso comum sobre o assunto, podemos divisar dois conceitos relacionados de grande importância para a completa definição de informação: dado e utilidade. (FOINA:2001,17)
Conhecimento, por sua vez, requer um esforço de pensamento, não é algo que se dá de imediato. Conhecer vai muito além da relação simples entre sujeito e objeto, está relacionado também ao processo de formação de conceitos.
As proposições de Vygotsky acerca do processo de formação de conceitos nos remetem à discussão das relações entre pensamento e linguagem, à questão da mediação cultural no processo de construção de significados por parte do indivíduo, ao processo de internalização ao papel da escola na transmissão de conhecimento de natureza diferente daquele aprendidos na vida cotidiana.(OLIVEIRA:1992,23)

Na medida em que o homem conhece, começa a explicar, dá sentido às sua ações e inteligibilidade ao mundo, esse é, segundo Ribeiro (2005) o objetivo do conhecimento humano. Sabe-se que o que diferencia o ser humano dos outros animais é a capacidade que ele tem de produzir cultura, que, por sua vez, está imbricada de um conhecimento específico e necessário para ele mesmo.
Conhecer a realidade é possibilitar a estrutura de um novo saber e este, de acordo com o grau de elaboração utilizado para se apreender está baseado em três níveis, Dado, Informação e Conhecimento. O primeiro pode ser considerado como registro imediato. A informação, por sua vez, é a leitura de um conjunto de dados que se leva a produzir deduções e inferências lógicas confiáveis. Por fim, o conhecimento; argumentos e explicações que interpretam um conjunto de informações.
O processo de construção de conhecimento científico envolve os dados, os quais representam a “matéria-prima” bruta, a partir dos quais as operações lógicas criam informações e, finalmente, estas últimas são interpretadas para gerar conhecimento.
Segundo Setzer (2002), a compreensão e o significado dependem da capacidade de pensar, ou seja, de associar percepções e certos conceitos a outros conceitos, processos essenciais na absorção de informações e na cognição.
            É importante destacar que o ser humano, sim, é capaz de elaborar as informações por meio de associações de conceitos, mas quando se trata de computadores, estes não processam informações, e sim, dados, sendo incapazes de  associar significados.
Não se pode falar de informação nos tempos atuais sem relacionar ao processo de Globalização, e situar a sua importância dentro desses dois elementos. Assim, os recursos baseados nas Tecnologias da Informação e da Comunicação caracterizam muito as transformações existentes hoje na nova ordem mundial. É dentro desta revolução que há um deslocamento da área do trabalho humano antes baseado na força muscular e nas máquinas para a área do tratamento da informação.Vale ressaltar que segundo Lastres(1999) esse deslocamento acontece até por conta do processo de esgotamento da matéria-prima de um sistema de produção anterior diferente do da atualidade.  Nesse  caso,
a informação e o conhecimento passam a se constituir nos recursos básicos do crescimento econômico (em lugar dos tradicionais insumos energéticos e materiais) e tais recursos (não-materiais e, portanto, inatingíveis) não serem esgotáveis. Além disso, o consumo dos mesmos não os destrói, e seu descarte geralmente não deixa vestígios físicos. (Lastres, 1999)[4]

Esse momento é marcado pela revolução tecnológica e segundo Castells(2005) o que a caracteriza não é a centralidade do conhecimento e da informação, mas a aplicação dos mesmos para a geração de conhecimento e de dispositivo de processamento /comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso.
Por conta disso, e de diversos outros fatores típicos dessa nova realidade, que muitos afirmam estar vivendo um paradigma tecnológico. Paradigma por quê? Porque outro modelo de vida vem impactando a sociedade através do desenvolvimento das tecnologias, conforme esse estudo vem discutindo. Dessa forma o próprio ato de conhecer se diferencia de tempos outrora.
Há no mundo real as incertezas próprias da vida em que o homem presencia complexidades à medida  em  que descobre a si e aos outros. Conhecer, parece, muitas vezes, que acontece de forma linear, causal simples e lógica, porém, para alcançar o conhecimento é necessário aprender e gerenciar seus sentidos e intelecto.
No mundo atual, o conhecimento vem recebendo um valor diferente do passado. As empresas e até as escolas vem se organizando de forma especial frente ao ato de conhecer. Nesse contexto, todos os elementos que formam uma comunidade escolar, em especial o professor e o estudante, possuem uma forma específica de lidar com o conhecimento. Os primeiros, em sua maioria, acreditam que o conhecimento se dá de forma linear e os segundos sofrem de uma complexidade e insegurança inerente ao ser humano. Para haver uma interação do conhecimento na relação entre professor e aluno, onde a confiabilidade esteja presente, faz-se necessário uma inovação de experiências e motivação.
Aprender é o resultado de um processo que pressupõe interação entre razão e emoção. É preciso estar emocionalmente comprometido para aprender. Assim, o professor deve cuidar para que a motivação inicial dos alunos permaneça durante todo o curso.(RIBEIRO:2005,87)
Quando o conhecimento é encarado como desafio e transforma aquele que o buscou, pode-se dizer que houve aprendizagem, no entanto deve-se levar em consideração que para se conhecer deve-se respeitar as etapas e o amadurecimento cognitivo daquele que deseja. Por exemplo: não se pode falar de das quatro operações para um estudante que não conheceu ainda os signos numéricos, as etapas devem ser respeitadas e cada experiência avaliada.
Entender que o conhecimento se dá de forma linear e lógica, por exemplo, é não estar a par do processo  necessário da produção de conhecimento, e isso é algo preocupante, principalmente quando parte de um mediador do processo de aprendizagem. Portanto, é necessário que o professor seja conhecedor deste fato.
O Papel da escola como mediadora do conhecimento é fundamental para se obter um homem em condições de conhecer o seu mundo e suas próprias possibilidades e limites. Dentro dela, a figura do professor é imprescindível, na medida em que este é um dos grandes responsáveis em apresentar o objeto de estudo aos seus discentes e deles perceber como se deu o processo de ensino e aprendizagem.
Mas, o que se vê nos tempos atuais, na sociedade dita como sociedade da informação, é que nem sempre a escola é a responsável em transmitir todo o conhecimento sistematizado, e muito menos, o professor é considerado o maior responsável em apresentar determinados objetos de estudo. Isso por conta do acesso que as crianças, jovens, adolescentes e pré-adolescentes, possuem às Tecnologias da Informação e da Comunicação.
Para situar essa realidade faz-se necessário buscar o conceito de alguns elementos básicos para esse estudo, começando pela Tecnologia que para Castells (2005) significa o uso de conhecimentos científicos para especificar as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível.  A revolução tecnológica, por sua vez, é caracterizada por sua penetrabilidade, ou seja, sua penetração em todos os domínios da atividade humana, não como frente exógena de impacto, mas como o tecido em que essa atividade é exercida.
Dessa forma, nasce um novo perfil humano, produto de uma nova sociedade:
“ Estamos vivendo em uma sociedade em plena transformação em relação às suas formas de organizar-se, de produzir, de relacionar-se econômica, social e politicamente, de divertir-se, de comunicar-se de ensinar e de aprender. Não se trata  apenas de uma modernização ou revolução tecnológica, mas sim de um conjunto de avanços científicos e tecnológicos que estão transformando as relações de trabalho e de poder na sociedade”(SIMIÃO:2002,38)

Para nós, a Educação, e nela, o papel do professor é fundamental em meio a tantas transformações, isso porque:
“Com as novas tecnologias, novas formas de aprender, novas competências são exigidas, novas formas de se realizar o trabalho são necessárias e fundamentalmente, é necessário formar continuamente o novo professor para atuar neste ambiente telemático, em que a tecnologia serve como mediador do processo ensino-aprendizagem”
(MERCADO:1999, 15)

Dessa forma, faz bem, inclui e liberta. Mas, “ como garantir o sucesso de projetos sem infra-estrutura adequada para tal empreendimento e sem a compreensão teórica do uso das TIC no cotidiano escolar?”(LIMA:2002_)
Por isso não basta falar da  relação da Educação e Tecnologia para se ter garantida uma educação em processo de ascensão. É necessário muito mais que isso. É necessário saber quais, porque e principalmente como se usa determinada tecnologia como ferramenta no processo de ensino-aprendizagem.
            A escola, muitas delas, recebem apoio e incentivo quanto ao uso dessas novas tecnologias, o professor precisou e precisa inovar a sua prática quanto a utilização de  novos recursos tecnológicos e o aluno, por sua vez, traz no seu cotidiano uma prática comum de utilização destes, em especial a internet.
Para quem deseja discutir a utilização das tecnologias da Informação e Comunicação no ambiente escolar, faz-se necessário identificar o meio social em que esses novos recursos tecnológicos se inserem para poder entender sua importância no aspecto educacional. Portanto, quando se observa esse poder de auto transformação característico da sociedade industrial, podemos identificar as tecnologias como produto humano de trabalho  e conhecimento favorecendo a essas modificações. Aqui, também é imprescindível chamar atenção para o tipo de apropriação de tecnologia que se quer discutir.
Segundo Álvaro Pinto(2005) a tecnologia possui duas noções atuais, uma essencial e outra confusa. Mais do que aparatos tecnológicos, mais do que evolução da técnica, a tecnologia deveria ser compreendida de forma única tanto para estudiosos, filósofos quanto para o técnico. Para esse estudo, essa compreensão é indispensável, uma vez que ao lidar com tecnologias em sala de aula, e fazer dela um uso significativo na produção de conhecimento, é necessário olhar a tecnologia de um ângulo no mínimo, capaz de se entender o porquê e como se apropriar desses recursos na realidade social atual. Entender a tecnologia diferente de sinônimo de técnica é ir além do sentido mais freqüente e popular da palavra.
Ao analisá-la de acordo com Álvaro Pinto(2005) a técnica como ato produtivo é quem dá origem as considerações teóricas. Na ciência tecnológica, ela é o seu objeto de estudo. E nesse caso a técnica é a responsável em configurar um dado que é produto da percepção humana. Esse mesmo dado se materializa em forma de instrumentos e máquinas, volta ao mundo em forma de ação e entregue à transmissão cultural.
É necessário consciência crítica e perceber a tecnologia em sua totalidade.
A consciência crítica é aquela que toma consciência de seus determinantes no processo histórico da realidade, sempre porém apreendendo o processo em totalidade e não considerando determinantes os fatores correspondentes aos interesses individuais privados. (PINTO:2005, 222)
            Por conta disso não se pode visualizar a tecnologia e muito menos o processo de explosão tecnológica de forma ingênua. Para Álvaro Pinto (2005)as deficiências dessa percepção do mundo é a ausência de sensibilidade histórica, além disso, a grande impressão à primeira vista levada a absolutizar o presente. Infelizmente, há uma grande dificuldade em se delimitar as diversas acepções dos termos tecnologia.
A discussão desse termo se faz necessária para que se possa situar a escola e seus demais agentes no contexto social e histórico aos quais são pertencentes. No caso do Brasil, país caracterizado como periférico, segundo Boaventura (2005), a sua dependência no âmbito econômico, cultural, político, social em meio ao processo de globalização e a sua relação com outras nações, mostra-nos quão grande é a aceitabilidade de novas tecnologias nos diversos setores constituintes do nosso país. Aqui, a tecnologia (refiro-me a produtos eletrônicos e maquinarias em geral) chega como algo que vem amenizar o atraso tecnológico da nação. Ao receber um produto de exportação, este passa imediatamente a ser incorporado ao processo nacional, como diz Álvaro Pinto(2005).
O que se desconhece, ou pelo menos não se faz questão de discutir é que o país acaba chamando para si uma força de exploração e se submete a perda ou diminuição de sua soberania.
Acontecerá então que, em vez do desejado e fecundo  fator incentivador de potencialidades internas, chamará sobre si,como rãs que outrora pediram um rei a Júpiter, uma força  de exploração e drenagem dos recursos, dando  em resultados a diminuição, quando não a completa perda da sua soberania.(PINTO:2005, 269)

O fato é que antes de aceitar instantaneamente as inovações tecnológicas dos países centrais, o ideal seria que os países dependentes tivessem o poder de escolha e analisasse de forma clara onde e por que incorporar determinadas tecnologias em seu meio social.
O poder de decisão na escolha, manutenção e direção da tecnologia, não só quanto à origem mas igualmente quanto à natureza dela, constitui o traço mais significativo para comprovar a posse  da autoconsciência pelo país subdesenvolvido. Não é qualquer tecnologia, identificada à técnica que lhe convém, nem mesmo aquela representativa do grau mais elevado do desenvolvimento produtivo do momento.Compreender este primeiro axioma constitui o passo inicial da transformação da consciência dirigente dos povos por ora menos avançados. (IDEM)
Ao se fazer um paralelo dessa discussão com a educação, pode-se perceber que da mesma forma que os países em desenvolvimento absorvem tecnologias de outros países sem um senso crítico e sem uma avaliação adequada para a sua realidade, a Educação, a escola propriamente dita, investe em tecnologia sem no entanto ter consciência adequada para o uso da mesma.
Nasce dessa discussão um questionamento sobre o que de fato as tecnologias da informação e comunicação podem contribuir no processo de ensino e aprendizagem. Brunner (2004) fala que da relação Educação e TIC nascem esperanças misturadas às frustrações. O que se pode observar diante disso é que o Governo mede a sua sintonia com a sociedade da informação de acordo com o número de escolas com internet e quantidade de computadores por alunos. Nesse contexto os professores precisam cada vez mais se adaptar às novas exigências, os empresários oferecem produtos, serviços, marcas, experiências e ilusões sendo todos esses fatores grande contribuição para o fortalecimento da Indústria educacional. (BRUNNER: 2004,18).
Numa nova perspectiva de educação, sabe-se que os elementos diretamente responsáveis pela formação do homem e da mulher,passam, ou pelo menos precisam passar, por adaptações e mudanças coerentes com a realidade, e por conta disso, a escola, o professor e o estudante devem adquirir um novo perfil. Sendo assim, setores governamentais, também precisam proporcionar condições de mudanças.
Estabelecer políticas nacionais para o planejamento e a aplicação de programas de integração das TIC na educação pública é uma responsabilidade que envolve não só o setor educativo como também outros setores governamentais. Por esse motivo, é preciso uma organização interdisciplinar em nível nacional que tome decisões, planifique e coordene sua instrumentação.(MARTINÉZ: 2004,99)

O ideal, seria que gestor, professores, pais e estudantes tivessem em seu projeto pedagógico a especificação da necessidade e utilidade de determinados recursos referentes às TIC no processo de ensino e aprendizagem.


Papel do Professor

Nos tempos atuais, com a presença das mais diversas tecnologias presentes no cotidiano, o professor, já não pode ser considerado o dono do saber. Seja o aluno de escola pública ou particular, o acesso às informações atualmente, na maioria das vezes independe da sua classe social. O contato com o computador e através dele a internet, a própria televisão que também nos favorece ao processo de desterritorialização e demais elementos contribuem para os mais diversos contatos com informações, algo quase impossível antigamente. Outro fator característico, ainda segundo Ribeiro(2004), o aluno se apropria dos processos de socialização hoje mais fora da família do que dentro dela.
Pode se dizer que em meio a essas mudanças e nesse contexto aumenta a responsabilidade do professor. De repente, essas responsabilidades podem explicar um pouco do que se apresentou acima, sobre as características de filantropia no perfil de alguns. O que se pode informar é que na maioria dos casos já não podem ser identificados como os- que –transmitem - conhecimento, mas, os que ainda, muito lentamente, buscam ser os-que-constroem-conhecimento numa relação harmoniosa ideal entre docentes e discentes.
Para Ribeiro é possível que os professores transformem o seu próprio processo de mudança e aceitabilidade da diversidade.
Podemos ocupar-nos positivamente de resolver esse – que pode ser um – dilema e olhar para a nossa própria prática como professores (futuros ou atuais, em formação continuada) como inspiração e modelo; podemos transformar o nosso próprio processo e viver a busca da diversidade e do respeito à pluralidade na nossa prática docente, na forma como pensamos as nossas aulas, os nossos procedimentos avaliativos, os nossos paradigmas e tabus com relação à realidade de dinâmica, viva e mutuamente que é a escola. (RIBEIRO:2004,119)

Ser maleável e flexível, é  portanto uma característica indispensável para o perfil de um professor que atue nos tempo modernos, contemporâneos e atuais. Para essa formação são necessários  novos modelos e propostas educativas, mas que partam da situação efetiva diária do professor. Que possam receber apoio das políticas públicas e não virem delas para a escola num sentido vertical de cima para baixo. 
 É preciso, como assim diz Ribeiro (idem) que as reformas educacionais possuam princípios de sustentação, o que se compreende, que parta da realidade da prática de ensino da forma mais concreta possível.
Esses princípios estão diretamente relacionados às competências para ensinar no século XXI. Assim, o conhecimento está pautado em sua ação pedagógica, apoiada, de acordo com Ribeiro (2004) na observação sistemática de como seus educandos modificam o que “os agentes da sua educação quiserem-ensinar-lhes”.
Se a escola precisa mudar, o professor é o eixo central dessa transformação, ele é o protagonista dessas alterações que se pretende fazer, e portanto não é uma mudança que a necessidade social impõe, mas uma mudança primeiramente individual, interna,  para se atender a necessidade social. Dessa forma, o professor precisa ser mais que um pesquisador e articular as pesquisas produzidas com a sua prática pedagógica na realidade. Para Ribeiro (2004), esses são requisitos importantes para o caminho da autonomia.
Outro fator relevante desses princípios está na possibilidade da troca de informações e experiências entre educandos. Uma das sugestões para aplicação desse princípio é disponibilizar na escola espaços adequados para esse contato entre professores, veteranos, novatos e em formação. Mais do que troca de experiências, possivelmente haverá troca de conhecimento, elemento, indispensável para o professor nos seus mais diversos aspectos.
O professor forma-se durante a vida, inclusive nos cursos de formação. Ribeiro ao afirmar esse princípio de sustentação para a formação do professor, faz uma analogia com um atleta remador, que tem em suas mãos o instrumento de mudança de percurso, basta saber para onde e quando chegar.
Se o professor também se forma durante a vida, é por que se permite aprender diante das inúmeras situações ocorrentes ao longo da sua vida profissional. Acredita-se que o mesmo ocorra para aqueles que não estão dispostos às mudanças, e ainda se fecham às alterações corriqueiras e naturais da sociedade. Vale ressaltar que ter lemes nas mãos é usufruir de condições que lhe permitem agir e transformar.
Uma vez, professor responsável em formar professor,é muito importante ter em mente que o aluno ensinará como seu professor o ensinou.
A formação de professores passa necessariamente por uma revisão da nossa própria prática docente. Somos referência para nossos alunos não só nos conteúdos que administramos com competência e habilidade diante deles; não só nos assuntos que nos empolgam e dos quais dizem sermos “especialistas”. Somos referência para  nosso alunos na forma de ensinar e de estar diante de alunos, na forma de avaliar, na forma de tratar iguais diversos – dialogando com sabedoria com a pluralidade, que nos coloca o desafio de tratar em pé de igualdade seres que são, por definição, indivíduos únicos.(RIBEIRO:2004,123)

Nesse sentido, muitos são os testemunhos de discípulos que se destacaram a partir da observação da prática do seu professor. Não se precisa buscar maiores exemplos como os de Sócrates, Platão, Aristóteles.
Mesmo que as palavras independência, autonomia e liberdade, em alguns momentos caracterizem chavões de discurso ideológico e utópico para determinadas realidades, podem fazer um efeito significativo na prática daqueles que se pretende formar. Basta relacioná-los aos objetivos de ser professor, ou seja, formador de opiniões, (mesmo que tenha que dividir com outros elementos formadores), profissional capaz de estar em construção constante de conhecimento e promover a busca da autonomia do seu educando.
Jovens que possam se formar em cursos que motivem o pensar próprio, que motivem a busca própria de soluções e inovações, terão com certeza mais chance  de alcançar a felicidade e a realização nas suas salas de aula e na vida. Como o alcance da nossa atuação como formadores de professores atinge, indiretamente, outros alunos (crianças e jovens, na maioria das vezes), podemos imaginar que essas sementes de independência, autonomia e libertação cresçam e frutifiquem entre aqueles que poderão ser nossos alunos daqui a dez, quinze anos. (RIBEIRO:2004,124)

Para contribuir na transformação da realidade educacional, o papel do professor é fundamental , ele  deve atuar como ator pleno dessa mudança e ter consciência da sua grande importância para o estudante, para a família, para a escola e principalmente para ele mesmo.

Considerações Finais

            Entender o papel da escola e do professor na sociedade do conhecimento é condição sinequanon para se caracterizar a Educação nos tempos atuais. Também, é imprescindível compreender o papel das Tecnologias da Informação e Comunicação TIC como elementos importantes no processo e da contemporaneidade.
            As TIC, uma vez inseridas em sala de aula e utilizadas como recursos auxiliadores no processo de ensino e aprendizagem, deve ser tomadas com consciência crítica por parte do professor e da escola que as adquire. O que  exige do professor, cada vez mais, uma formação continuada, e capaz de ajudá-lo a lidar com esses elementos presentes na sociedade atual. Esse pode ser considerado o atual desafio da Educação.








REFERÊNCIAS

BRUNNER, José Joaquim. Educação no encontro com as novas tecnologias. In: TEDESCO, Juan Carlos, (org); tradução de Cláuda Berliner, Silvana Cobucci Leite – São Paulo: Cortez; Buenos Aires: Instituto Interncaional de Planejamento de Educacion; Brasília: UNESCO, 2004.

CASTELLS, Manuel. Sociedade em Rede. Tradução: Roneide enâncio Majer; 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

FOINA, Paulo Rogério. Tecnologia de Informação: planejamento e gestão. São Paulo: Atlas, 2001

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp. (1991)

LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. . Novas políticas na era do conhecimento: o foco em arranjos produtivos e inovativos locais. Parcerias estratégicas, p. 5-29, 2003.

LEVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. – São Paulo: Ed. 34, 1999.

LIMA, Maria de Fátima M. – No Fio da Esperança: Políticas Públicas de Educação e tecnologia da Informação e da Comunicação. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia. Salvador, setembro de 2002.

MATÍNEZ, Jorge H. Gutiérrez.  Novas tecnologias e o desafio da educação. In: TEDESCO, Juan Carlos, (org); tradução de Cláuda Berliner, Silvana Cobucci Leite – São Paulo: Cortez; Buenos Aires: Instituto Interncaional de Planejamento de Educacion; Brasília: UNESCO, 2004.

MERCADO, Luiz Leopoldo. Formação continuada de professores e novas tecnologias. Maceió: EDUFAL, 1999.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky e o Processo de Formação de Conceitos. In: Piaget, Vygotsky e Wallon. São Paulo: Summus, 1992

PINTO, Álvaro Vieira, O Conceito de Tecnologia. Rio de Janeiro: Contaponto, 2005.



[1] Tema apresentado como dissertação de mestrado em Educação pela Universidade Federal de Sergipe
[2] Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Sergipe.
[3] Prof. Dr. do Núcleo de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe.
[4] acesso em www.ie.ufrj/ redesist